“Startups zebra consertam o que os unicórnios quebram.” Você já ouviu essa frase ou o termo organização zebra? Ele se refere a empresas que buscam desenvolver um negócio real com crescimento consistente, e ao mesmo tempo causar algum impacto social em seu entorno. Startups zebra são empresas focadas não só na lucratividade, mas também em uma causa. Ou seja, são negócios que além de visar o lucro, buscam sanar problemas sociais, amenizando impasses na sociedade. Eles se contrapõem aos unicórnios, startups que valem mais de US$ 1 bilhão e recebem grandes montantes de investimento para acelerar seu crescimento.
De acordo com Mara Zepeda, uma das fundadoras da Zebras Unite, em entrevista recente para a Folha de S.Paulo: Startups zebra são fundamentadas em princípios da economia solidária, priorizando “empreendimentos participativos e democráticos”. Ela completa: “trata-se de repensar a estrutura corporativa para que ela também possa servir ao ganho social em vez de puramente aos lucros financeiros.”
Mara é uma das quatro fundadoras da Zebras Unite. Essa rede surgiu em 2017, a partir da união de quatro mulheres empreendedoras nas áreas de tecnologia, comunicação e diversidade. A princípio, Mara, Aniyia Williams, Astrid Scholz e Jennifer Brandel buscavam fortalecer a comunidade de empreendedores e investidores em todo o mundo, interessados em criar negócios que equilibram lucro e propósito.
Uma das origens do termo startup zebra tem relação com o comportamento desses animais. A vantagem competitiva das zebras é que, quando elas estão tentando escapar de predadores, como leões, por exemplo, elas se juntam em rebanho e a quantidade de listras de todas juntas acaba confundindo o predador. Trazendo para o mundo corporativo, esse tipo de corporação busca construir estruturas cooperativas, que agreguem entidades diferentes num mesmo propósito para que, juntas, se tornem mais fortes e resilientes.
O discurso parece inspirador, mas há desafios nesta trajetória. Em primeiro lugar está a necessidade de investir em melhoria de processos para ajudar as empresas a adotar, executar e mensurar o resultado de seus produtos e serviços. Há soluções de consultoria que podem ajudar neste ponto. No caso da Grão Inteligência, o módulo de performance e excelência operacional une tecnologia à experiência em consultoria empresarial para auxiliar outras empresas a melhorarem a performance das suas operações.
Mas para investir em consultoria e softwares de performance é preciso ter recursos e aí está o segundo desafio dessas empresas: encontrar fontes de financiamento. Segundo Mara Zepeda, atualmente 81% dos fundos de investimento de startups zebra têm origem no patrimônio líquido pessoal dos fundadores. E se forem fundadoras, mulheres, a dificuldade é ainda maior.
No Brasil, pesquisa recente da Rede Mulher Empreendedora mostra que 42% das mulheres empreendedoras que buscaram crédito tiveram seu pedido negado. E entre as que conseguem crédito, o valor arrecadado pode ser metade dos investimentos destinados a startups lideradas por homens, de acordo com estudo da Boston Consulting Group.
Todavia, apesar da dificuldade em conseguir financiamento, o desempenho de empresas lideradas por mulheres é 63% melhor do que o daquelas lideradas exclusivamente por homens. Esse dado foi divulgado recentemente pela First Round, empresa de capital de risco que financia organizações na área de tecnologia.
Sem comprovar resultados e conseguir visibilidade para seus negócios é difícil conseguir captar investimento e, consequentemente, investir no desenvolvimento da organização. E exatamente aí está o terceiro desafio para as zebras. Ao passo que unicórnios atraem atenção, visibilidade e bilhões em investimentos, organizações zebras são mais discretas e modestas. Ou seja, a falta de visibilidade para empresas que crescem adotando o modelo das startups zebra acaba prejudicando o desenvolvimento de outras organizações semelhantes.
É importante, portanto, dar visibilidade a casos de sucesso. E um deles é a plataforma Switchboard. Voltada para desenvolvimento profissional, ela ajuda organizações a engajarem com suas comunidades por meio de treinamentos e tem como clientes faculdades, escolas e ONGs.
No Brasil, um exemplo é a Semente, uma empresa de educação que atua para fomentar o surgimento de iniciativas inovadoras em diferentes áreas. Para isso, desenvolve programas de apoio ao empreendedorismo, aceleração de startups e projetos de inovação corporativa. Um exemplo desses projetos é o MBA em liderança feminina na inovação.
Essa conciliação entre sucesso profissional e propósito é uma demanda forte há algum tempo e torna-se cada vez mais relevante para as novas gerações. Um estudo da Rede Globo mostra que 28% das pessoas da geração Z (nascidas entre 1995 e 2010) consideram propósito como o fator que mais pesa na hora de escolher uma empresa para trabalhar. Exatamente o mesmo percentual das que escolheram dinheiro como fator mais relevante.
Ter um propósito é essencial há algum tempo. Mas o desafio que as empresas zebra colocam é que este propósito esteja alinhado a uma preocupação social. O que a sua empresa pensa sobre isso?