• Home
  • Insights
  • Porto Digital: Raio-x de um dos principais parques tecnológicos brasileiros

Porto Digital: Raio-x de um dos principais parques tecnológicos brasileiros

  • Tais Bahov
  • Tais Bahov

    Jornalista, com especialização em Pesquisa e Branding

Quando se pensa em parques tecnológicos, talvez, a primeira imagem que venha à sua mente seja o Vale do Silício, nos Estados Unidos. Mas o Brasil tem inúmeros parques espalhados por todas as regiões, muitos fora do eixo Sul-Sudeste. É o caso, por exemplo, do Porto Digital. Um dos principais parques tecnológicos brasileiros, que fica no centro de Recife desde 2000. O Porto abriga atualmente 355 empresas brasileiras e multinacionais. E, apesar da pandemia, fechou 2021 com faturamento de R$ 3,67 bilhões, crescendo 28% na comparação com 2020.

História

A princípio o Porto Digital foi criado por professores da Universidade Federal de Pernambuco. Eles estavam incomodados por formarem alunos para trabalhar em outros Estados, ou mesmo fora do Brasil. No início, eram apenas duas empresas na área de tecnologia. Atualmente o Porto também contempla empresas das áreas de economia criativa, produção audiovisual e games. Juntas, elas empregam 14.790 pessoas (crescimento de 11% neste último ano). E esse número deve aumentar porque o parque tem, neste momento, 1.500 vagas de trabalho abertas. Elas são divulgadas pelas redes sociais ou por um canal exclusivo no Telegram.

Para conseguir criar essa estrutura semelhante à de outros parques tecnológicos, capaz de atrair empresas e crescer, o Porto foi beneficiado por uma parceria entre o governo estadual e o Ministério da Ciência e Tecnologia. Juntas, as duas esferas de poder investiram R$ 30 milhões na criação do parque, que é uma empresa privada sem fins lucrativos. Eles desenvolvem, ainda, um trabalho de preservação do patrimônio histórico de Recife. “Nós recebemos imóveis gratuitamente que estão em ruína ou em débito com o governo, mas somos responsáveis por fazer o retrofit desse imóvel e temos o direito de explorá-lo comercialmente por cerca de 20 anos, a depender da negociação”, explica Mariana Pincovsky, diretora executiva do Porto Digital. “Isso, na largada, foi muito importante porque a receita oriunda dos aluguéis desses imóveis é que promove a sustentabilidade do parque”, complementa.

Por que aderir ao Porto Digital

São muitos os benefícios de “embarcar” uma empresa em parques tecnológicos. No caso do Porto Digital, primeiramente o que mais chama a atenção é a redução de 3 pontos percentuais no ISS (de 5% para 2%). Além disso, há outros benefícios tão importantes quanto o incentivo fiscal. Por exemplo: infraestrutura de sala de reuniões, estúdios para gravação audiovisual, laboratórios de tecnologia e proximidade com outras empresas para intercâmbio e integração. Entretanto, na visão de Mariana, “o maior ativo do Porto Digital são as conexões”.

Em outras palavras, um exemplo prático do que ela quer dizer é o programa Open Innovation Lab. “A gente entra nessas grandes indústrias tradicionais, entende quais são os desafios que eles têm, leva isso para o parque tecnológico e as empresas se candidatam a solucionar esses problemas”, explica. “Possivelmente, uma startup sozinha teria dificuldades para chegar nessas gigantes, mas todo o branding que o Porto Digital já conseguiu construir ao longo desses anos facilitou muito esse intercâmbio”, completa.

Por fim, não há restrição para aderir ao Porto Digital e aí está outro benefício da iniciativa. “Algumas empresas ainda nem existem com CNPJ, estão apenas nas ideias e por meio dos programas de empreendedorismo do nosso parque tecnológico, da nossa incubadora, nós ajudamos a tirar essa ideia da cabeça, organizar e formalizar numa startup”, explica Mariana.

Assim como as pequenas, o parque abriga também gigantes do mercado. Entre elas, a Rede Globo, a área de inovação da Fiat Chrysler, e o Centro de Inovação da Samsung.

Formação de mão de obra

Lembra que o objetivo do Porto Digital, lá no início dos anos 2000, era reter talentos? Parece que a estratégia tem dado certo. De acordo com Mariana, Recife é hoje a cidade que mais concentra profissionais com PhD na área de tecnologia no Brasil. E continuar investindo em formação é um dos pilares do Porto.

Eles têm um programa, por exemplo, chamado Embarque Digital. Com ele, devem formar, nos próximos três anos, 2 mil jovens egressos de escola pública nas áreas de análise e desenvolvimento de sistemas. “Os brasileiros que falam inglês fluentemente já estão trabalhando para empresas de fora. Competir com Dólar e Euro é muito difícil. Por isso não tem outro caminho para o nosso parque que não formar”, explica Mariana.

“Tecnologia vai passar a ser cada vez mais transversal, não vai ser um setor. Todos os setores hoje precisam da tecnologia, se não a gente sequer estaria conversando agora.”

Mariana Pincovsky, diretora executiva do Porto Digital

Equidade de gênero

A área de tecnologia é predominantemente masculina. Isso é um fato. Razão pela qual a questão da equidade de gênero surge inevitavelmente quando se pensa em um polo tecnológico. Mariana, entretanto, tem uma visão mais abrangente do assunto.

“Não é só uma demanda da mulher. A questão é ter um parque diverso, plural, com complementaridade de olhares. A tecnologia trabalha para solucionar problemas. Então, se você tem um time apenas de homens, você só vai ter um olhar masculino para a solução daquele problema. Um time composto por mulheres, homens, pessoas com deficiência, pessoas trans, pessoas de diferentes classes socioeconômicas vai gerar soluções diversas e com um olhar cuidadoso para todos.”

Mariana Pincovsky, diretora executiva do Porto Digital

O texto serviu de inspiração e você quer conhecer mais sobre o assunto? Ouça a conversa na íntegra no Gcast, nosso canal no Spotify.

E para ler mais assuntos relacionados a tecnologia e tendências, acompanhe nosso blog.

Fique por dentro das novidades